Reencarnação

Como tu a reencarnação
Obstinado eu já repudiei
Para a dor outra explicação
Resignado eu procurei

Dó ódio e da abnegação
O enigma eu examinei
E com sofismas o coração
Soberbo eu enganei

No entanto ao ser tocado
Pelo aguilhão cruciante
da angústia, eu despertei

Do sono e acordado
Não mais tíbio e vacilante
Na imortalidade acreditei!

Superação

 

A cada golpe pela sorte desferido
Sinto-me mais vigoroso e forte
Mesmo ante as vascas da morte
Mesmo dilacerado, só, ferido

Tudo quanto há de mais querido
De nossos corações o bem, o norte
Cede do tempo ao talho e corte
Quebra-se o mimo preferido...

Sendo tudo na terra transitório
Aprendamos a por nossos anseios
Nos domínios largos da imortalidade

Deste domínio curto e provisório
Repudiemos delírios, devaneios
Avançando na luz da eternidade!

Sursum corda

 

O resultado de tudo que perdemos
Ao cabo da existência dilatada
É essa dor pungente acrisolada
Que no coração todos trazemos

"Sursum corda' meus irmãos 'oremus'
Para que a esperança iluminada
E fé na imortalidade anunciada
Pelo Mestre amado conservemos

Pois se tudo, tudo aqui se acaba
Nada restando da humana criatura
Que mistérios tais vislumbra!

É o sentido da vida que desaba
Dissolvendo-se tudo na amargura
E restando apenas a penumbra!

Esperança

 

Olhos marejados ouso erguer
Além da terra triste e pesarosa
Se há espinho há também a rosa
Nesta via a dor e o padecer

Diante disto é necessário crer
Que após esta vida tormentosa
Jaz uma existência venturosa
Que agora não podemos ver

Faz-me assim Jesus compreender
A luz desta fé pura e sublime
Que há algo em nós que permanece

Faz meu coração em ti adormecer
E na paz deste Evangelho que redime
Recolhe minha humilde prece!

A morte de meu gato

Mesmo quando a sombra escura

Turvar, Jesus o meu caminho

Aproxima-te quieto e de mansinho

Daquele que triste te procura

Enfermo sou, tu és a minha cura

Da alma enfermo sou, e ninho

Busco em teu seio, sendo pequenino

Pensa Senhor a dor que me tortura

Faz-me crer Senhor que a morte

Não passa de doce e terno sono

Para o ser que o mal não conheceu

Vela Pai de amor por minha sorte

No mistério cruciante do abandono

Que o partir de uma alma estremeceu!