terça-feira, 9 de janeiro de 2018

A mariposa

A mariposa vai voando, voando
Até que enfim
Na luz da lamparina cai sonhando
tal o seu fim...

Voando, voando a pobre mariposa
Segue o destino
As chamas do lampião ela desposa
Em desatino

As asas que tive eu na juventude
No turbilhão da vida queimei, e a virtude,
desvaneceu

Agora cheio de angústias, inquietude
Inexoráveis frutos da decrepitude
pereço eu!

Lamparina...

Qual falena a vida me lancei
como na lamparina
Ávido sobre ela debrucei
a alma peregrina

Deste jogo falaz eu me cansei
aquela purpurina
Aquele falso brilho agora sei
é coisa pequenina

Cheio e mágoas o pobre coração
da paz, o bálsamo, tem procurado
Enquanto chora

Suspirando pela luz da redenção
Deste degredo tenho suportado
Tanta demora!

Iluminação

Cuidava eu que a terra em que vivia
Qual jardim de delícias encantado
Da vileza e do mal já expurgado
E esta visão me comovia

Mais que isto, nada nada via
Nem o povo tratado como gado
Nem de amor o estatuto revogado
O irmão que dormia na enxovia

Té que o mistério da dor devastadora
Da mente carnal abriu-me os olhos
Na íngreme estrada de Damasco

A Luz desta fé encantadora
Que do coração toca os refolhos
Por sofrer eu já não sinto asco!

Meu credo

Eu aprendi a crer, oh aprendi
A crer na efemeridade da existência
E nos braços da paternal clemência
Qual meigo e terno filho me prendi

Sim, eu me arrependi, me arrependi
Após louca e obstinada resistência
epifenômeno de minha prepotência
E por fim, exausto, compreendi

Aprendi a crer no bem que existe
No íntimo de cada ser humano
E esta é minha crença e firme fé

Aprendi que o vero amor resiste
A cada ato vil, egoísta e desumano
Permanecendo incólume, de pé!