quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Transes finais



Quando abandonar a morada transitória
Com que a alma se acha revestida
No derradeiro instante da partida
Obterei a palma da vitória

Passe assim eu a santa glória
Ao virtuoso por Cristo prometida
Que a fortuna com muitos repartida
No curso da existência merencória

Senda é que conduz a eternidade
pacifica, feliz e luminosa
Aos braços de Jesus abertos

Pois quem o imita na verdade
da luz trilhando a senda caridosa
Escapará de todos os apertos!

A melhor taça



A quem comparar-te o Virgem pura?
Mãe de Deus Santa e imaculada!
Inda mais bela que a 'Vitória' alada
Mimosa flor por sobre a terra impura!
Adianta-te aquele que procura
Sedento pela cristalina fonte
Conduze-o do Legislador ao monte
Comunica-lhe esperança que perdura
Se teu único Filho é água viva
Que desedenta todo ser humano
e elimina da impureza a jaça
Faz com que o homem sobreviva
ao veneno de sabor profano
Sendo de Jesus abençoada taça!
Domingos P Braz

O receptivo



Sigo em demanda do celeste ninho
Saudoso de ti bondoso amigo
Saudoso Jesus do teu carinho
Em demanda Senhor do eterno abrigo


Se tu doce Jesus estas comigo
Não temo ameças de castigo
Passo firme Jesus eu vou contigo
A frente segues e eu te sigo

Enfim a porta chego do aprisco
E julgando-me só, abandonado
Torno-me arredio, rebelde, arisco

'Deus de amor que se faz encarnado!'
É prece sincera que eu arrisco
A porta se abre, eis-me serenado!

A arte do trovar



Aprecio o trovar com rima rica
Dos antigos trovadores do passado
Trabalhar assim qual quem fabrica
Diadema em ouro acrisolado


Deploro o versar barbarizado
Com que a rima entorta, embrica
E o poema, soneto arrevesado
Tanto mais estranho e feio fica

Profissão de fé na forma fiz
De as últimas silabas combinar
E a promessa, o juramento não refiz

Classicista sou não eu não nego
E de Bilac imitador e aprendiz
A tradição não arrenego!

Mistério eucarístico




Grãos de trigo nós somos pequeninos
Fragmentos do teu celeste pão
crianças, meninas e meninos
Guiados por tua benta mão

Gotas somos de sumo pequeninas
elementos do sangue do teu vinho
crianças, meninos e meninas
Sedentas de amor de carinho

Do pão nos somos as migalhas
Do vinho gotas esparzidas
Tu o Mestre que enche as talhas

Almas ao mistério conduzidas
Por esse amor Jesus que espalhas
E pelas asperezas reduzidas!

Domingos P Braz

Regressando

Resultado de imagem para Jesus celestial


Por preconceitos toscos eu também não cria.
Na reencarnação, a lei dada aos mortais
No entanto tanto sofrimento eu via
que não pude, não pude negar mais.

Hoje um mundo penitente eu vejo
Doutras eras neste mundo ingrato
Isto confesso sem vergonha ou pejo
Mas a eterna divindade grato!

Pois a mesma dor cruel que nos aflige
A sombra da cruz erguida no calvário
É mão amiga e santa que corrige...

E chegando ao termo deste vil fadário
pagando o preço que a justiça exige
Seja eu hóstia, Jesus no teu sacrário!
Domingos P Braz

Romagem pela terra dos mortais



Sei que peregrino neste mundo sou
Dividas pagando de outros caminhos
Seguindo adiante temeroso vou
Pisando calhaus juncados de espinhos


Aqui penitência nós todos fazemos
De sinistros males de vidas passadas
No Cristo bendito as vistas pousemos
Peregrinos somos de tantas jornadas

Com serenidade sigamos em frente
Por esta existência purificatória
Com o objetivo de mudar a mente

Que ao termo da senda, dura e transitória
Ao mundo divino torne novamente
E possa fruir de Jesus a glória!

Domingos P Braz

Contemplação



Ao contemplar-te a face, meigo Nazareno
Teus olhos dolentes banhados em luz
Teus olhos brilhantes, divino Jesus
Espírito plácido, calmo e ameno

O quanto me sinto abatido e pequeno
Por não conseguir carregar minha cruz
O sofrer diário que a vida introduz
E que não consigo aceitar sereno

Então busco forças no brilho divino
De teu meigo olhar, de luz foco imortal
Para meu olhar de mortal peregrino

E nesta existência de humano e mortal
peço que contenhas o meu desatino
E que me preserves do engano fatal!
Domingos P Braz

Por meus irmãos mais pequeninos





Contempla os que na retaguarda desta vida
Vão seguindo sem pão, sem luz e esperança
Na condição cruel que a vida os lança
Coração aflito, corpo magro, face lívida

Sê para eles amor que não se cansa
Nobre alma por fazer o bem exercitada, ávida
Para beneficiar o próximo atrevida
Mimo cobiçado que se espera e alcança

Pois chegando aos umbrais da eternidade
Em que esta vida nossa humana se desfaz
E nos apresentamos face a divindade

Manifeste-se o que o coração impele e faz
E sob o brilho da intensa claridade
A divindade te receba em paz!
Domingos P Braz

A paz da alma




Tanto roguei a luz benevolente
Que me enchesse de paz consoladora
Que a mão do Deus onipotente
Quebrantasse esta lei desoladora


Em fantasias divagava a mente
Numa visão cruel e aterradora
Que não deixava perceber somente
Que a dor é hábil professora

Hoje o alto do calvário contemplando
Onde o Deus feito homem quis morrer
Altas lições  de amor vou aprendendo

A visão mais e mais vai se ampliando
Pois há alguém a que possa recorrer
Uma vez que Deus vejo morrendo!

Calvário d'alma





Quando sendas ingratas percorria
Com as plantas de meus pés sangrando
Jungido pelo sofrimento ia gritando
Sentindo a cada passo que morria


A dor mais e mais aguilhoando
O coração que em pranto se escorria
A tempestade que o espírito varria
E eu calado, tudo suportando

No entanto o que mais importunava
Naquele estado frágil e precário
Era o deserto do ser, devastação

Naquele tempo seque imaginava
Que Deus morrendo no alto do calvário
Da solidariedade nos deu alta lição

O mistério da dor




Cuidava eu que a terra em que vivia
Era jardim de delícias encantado
Da vileza e do mal já expurgado
E esta bela visão me comovia


Mais que isto, nada, nada via
Nem o povo tratado como gado
Nem de amor o Evangelho derrogado
Ou o irmão que dormia na enxovia

Té que o mistério da dor devastadora
Da mente carnal abriu-me os olhos
Na íngreme estrada de Damasco

Ao brilho desta fé renovadora
Que do coração toca os refolhos
Pelo sofrimento já não sinto asco!

Brisa mansa



Virando as folhas do meu livro d'alma
Que posso ler se é pagina de dor?
Se cada linha é travo e dissabor
Se cada ponto faz perder a calma.

Quando será que levarei a palma?
Inserido neste globo aterrador
De angústias alheias sabedor
No mundo em que aflição se espalma

Ergo os olhos para além da vida
Por cima do cume das montanhas
Buscando alevantar cinéreo véu

Neste momento a alma comovida
Sente refrigerar suas entranhas
Por uma leve brisa, que vem do céu!

Domingos P Braz

Minha prece



Jesus no início deste ano
A cujo fim não sei se vou chegar
Que é que venho te pedir, rogar?
Amado e divino soberano


Sim, algo que não possas negar
Ao coração de um ser humano
O desejo de não ser desumano
De meu semelhante arrenegar

Faz-me pleno de amor a cada dia
Enchendo de bondade que irradia
A alma deste teu fiel amigo

Faz caminhar Jesus contigo
Na oferta de pão, de luz e abrigo
Amando o próximo com ousadia

Prece de ano bom



Neste ciclo solar que se inicia
Tu que és o sol de nossas almas
E com solicitude nos acalmas
Luz, paz e bem nos propicia!


Com mão paterna acarícia
Os que na retaguarda vão sofrendo
e dores de morte remoendo
com ternura Jesus beneficia

O sofrimento que acrisola
Tempera com gotas de carinho
Numa existência que desola

Corrige os homens de mansinho
Sem excesso que os corpos estiola
Té que regressem ao celeste ninho!

O dom da amizade




Tanta gente há no mundo sem carinho
Sem migalha de amor que a alimente
Que me dou por feliz e por contente
Pelo bem que encontro no caminho


Pela senda da luz eu me encaminho
Busco educar o coração, a mente
E ao Bom Jesus rogo ternamente:
Só não me deixes caminhar sozinho!

Pois quem nesta senda de amarguras
cipoal de vicissitudes e torturas
Ao menos um amigo conquistou

Remédio tem,  face as imposturas
E apesar da insânia e das loucuras
Um sentido de vida perscrutou!

Outra rogativa


Tanto aspirei a virtude redentora
trilhando estreitas sendas desta vida
com que a alma leviana e atrevida
torna-se, não poucas vezes opressora


Que minha alma simples, comovida

Adquiriu a luz do amor, consoladora
Enchendo-se de paz animadora
E tendo a amargura toda removida

Tendo atingido enfim aquele termo
A que a humana existência põe limite
conduzindo-nos a campa escura e fria

Não temo a solidão, o frio, o ermo
Pois quem ao Senhor Jesus imite
conhecerá da eternidade a alegria