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segunda-feira, 2 de março de 2009

Capítulo XXXVI da 'Imitação' - Contra os respeitos humanos e temores vãos.








Põe filho, firme e direito

o coração no Senhor,

e dos homens o conceito

jamais te cause temor.


Não temas se a consciência

que és decoroso te diz

e da tua inocência

da testemunho feliz.


É bom, é afortunado

padecer desta feição

não será isto pesado

para o reto coração.


Não será, o alivia

a fé nos encargos seus

se o coração confia

menos em si mais em Deus


Que falar inexaurível

Em muitos! pouco lhes crer

cumpre, assim, se é possivel

a todos satisfazer


São Paulo que pôz estudo

em a todos agradar

No Senhor, e se fez tudo

a todos sem discrepar


Nenhum apreço ligava

aos juizos que, afinal

sobre ele manifestava

o humano tribunal.


Quanto em si era e podia

fe-lo assaz para os demais

levar a eterna via

da perfeição os umbrais


Contudo não lhe foi dado

proibir, dos mais não ser

algumas vezes julgado

e em seu furor incorrer


Por isso a deus que soubera

tudo, tudo cometeu

E, como mortal que era

humilde se defendeu


Contra a boca dos que falam

coisas iniquas e vis

e contra os que se assinalam

por engendrarem sutis:


torpezas, atrocidades

que espalham a seu sabor

e constituem maldades

sementes de magoa e dor!


Algumas vezes, contudo

não exitou retrucar

que aos fracos ficando mudo

podia escandalizar!


Quem és tu, para que temas

homem mortal que hoje esta;

vivo e com forças extremas

e amanhã não se erquerá?


Teme a Deus e dos humanos

esses terrores que são

infundados e insanos

jamais pavor te farão.


Com palavra ou com injúria

contra ti que pode alguém?

a si próprio pela fúria

mais dano que a tí lhe vem...


E escapar por mais que tente

dos arcanos do Senhor

não logrará impotente

seja onde for e quem for.


Põe Jesus ante teus olhos

e não queiras contender

com queixumes. Os refolhos

claros sejam de teu ser...


Porque se agora parece

que sucumbes, sem perdão

que, sem merecer, padece

se te esmaga a irrisão


Não deves mesmo que doa

revolta alguma causar

te que perpétua coroa

sobre tí venha pousar.


Antes os olhos zeloso,

ergue aos céus e põe em mim

que sou bom e poderoso

para a tais penar dar fim.


O padecer mais intenso

converto em eterno bem

e cada qual recompenso

conforme as obras que tem!!!


Affonso Celso

domingo, 1 de março de 2009

Capítulo XVI da 'Imitação' - corrigir os próprios erros e não os alheios.








O que alguém em si não pode

nem nos outros emendar,

deve (que Deus sempre acode)

paciente suportar.


Até que, doutra maneira,

praza Deus, até o fim

guarde paciência inteira,

verá que é melhor assim.


A paciência se revela

e exerce na provação;

nossos méritos sem ela

pouca vália terão.


Sofrer aproveita a gente,

roga, contudo, ao Senhor

que te ampare e acalente

para aguentares a dor.


Como alguém que tendo sido

primeira e segunda vez,

com razão repreendido,

recai nos erros que fez,


Não contendas, mas na graça

de Deus tem fé, para que

sua vontade se faça,

deixa-lhe tudo a merce.


Ele o bem em mal converte

-- Que em todos os servos seus

desejo infindo desperte

de honrar o nome de Deus


Aprende a sofrer paciente

dos outros qualquer señão

ou fraqueza, que igualmente

teus defeitos muitos são.


Tolerância tais defeitos

precisam também pedir:

Aos outros queres perfeitos,

sem nada em ti corrigir!


Fazer-se tal qual entende

Não pode o homem jamais,

Como, pois, torcer pretende

a seu talante, os demais?


Queremos que os outros tenham

a punição mais atroz

E, mesmo justas não caiam

as punições sobre nós.


Quão nos outros, desagrada

Larga licença! E a ambição

de tudo temos! Em nada

Nos compraz a negação.


Estrito regulamento

quem nos derá aos mais impor

e leve constrangimento

produz-nos tanto furor.


Disto resulta bem claro

que neste triste lugar,

Ao nosso próximo é raro

como a nós mesmos amar!


Si todos aqui, sem custo

chegassem a perfeição,

por vosso amor oh Deus Justo

que sofreramos então?


Ciência profunda e larga

a providência ordenou:

Suporte este agora a carga

que o outro ja suportou.


Defeitos de toda casta

duro fardo em todos há

ninguém a si próprio basta

ou sábio assaz ficará.


Convem que nos toleremos

reciprocamente, oh sim

que uns aos outros ajudemos

consolando-nos enfim.


Que uns aos outros socorramos

e aconselhemos também:

Só na desdita mostramos

quanta nobreza a alma tem.


As ocasiões não trazem

coisas que abalem a fé

Forte a fraco elas não fazem,

mostram aquilo que é!


Affonso Celso