domingo, 22 de junho de 2014

Madalena



Banhada em vivas lágrimas Maria
já fora do sepulcro se tornará
Que a vista dos anjos não a confortará
porquanto o rei deles apenas pretendia

Eis que então o Senhor lhe aparecia
E em trajes de jardineiro apresentava
Por que choras? Mulher lhe perguntara?
"Tomaram meu Senhor" lhe respondia!

Mas assim que pela voz o conheceu
A seus pés logo rojou, mas o Senhor
Dizendo 'Não me toques' e a deteve

E assim dizendo logo desapareceu
Pois que tão largo pranto de amor
não satisfaz Jesus visão tão breve!!!

Diogo Bernardes

quinta-feira, 19 de junho de 2014

A dúvida




Vinham de longe os dois, em dúvidas, ainda;
José, mais uma vez contempla a Virgem casta
Tentando compreender como tão meiga e linda

Há de ser mãe. Tenta, hesita e se afasta

Mas volta perturbado. A dúvida não finda

Se há o mistério sutil, há ideia nefasta
E sob o pálio azul da crença pura e infinda
qual réptil viscoso a tentação se arrasta

Assim chegados os dois a estrebaria
Entre animais o homem agasalha
A criança que em seu olhar lhe diz: confia

Confia! Crê em mim! Um hino aos céus entoa
pois o bebê que vez dormindo sobre a palha
É DEUS QUE TE REDIME E PAI QUE TE PERDOA!!!

Tobias Pinheiro

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Cristo compassivo





Pequei Senhor, mas não porque hei pecado!
De vossa piedade e amor estou despido
antes, quanto mais hei delinquido,
a perdoar vos tenho empenhado

Se basta a vos irar tanto pecado
Abrandar-vos basta um só gemido
assim a culpa com que vos tenho ofendido
vos terá o perdão lisonjeado!

Se é uma ovelha perdida é já cobrada
com glória tal e prazer tão repentino
segundo narra e conta a sacra história

Sou eu esta ovelha torpe e desgarrada
Cobrai-a e não queirais Pastor divino,
Perder em vossa ovelha a vossa glória!!!



Gregório de Mattos Guerra!

Sermão do encontro





Eis que vem curvado ao peso do madeiro
Na face refletindo a dor da traição
Era a divina luz que pelo mundo inteiro
legou a humanidade a mais nobre lição

O corpo torturado; a fronte um espinheiro
Em seus olhos brilhando o amor e o perdão
Filho de Deus, Deus verdadeiro
ao mundo quis trazer a luz da redenção!

Varão cheio de lágrimas e dores
Olhar perdido em convulsões aflitas
o peito imerso em virginais temores

O encontro se deu nas velhas ruas da Judeia

Ele. Ela, Maria, mãe de todas essas vidas
que imolam-se pelo preço de uma ideia!!!


Da Costa Santos

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Ao romper da alva





Além, por trás da montanha
clara luz se patenteia
que as dores todas amanha
n'alma que sentida anseia

Branda luz, que afaga a vista
vindo os céus de cor tingir
Quando o azul transparente
parece alegre sorrir

Como és bela, como dobras
da vida a força o amor

como nos penetra a alma
teu luzir encantador!

No teu ameno silêncio
A tormenta se perdeu
e do mar poder e força
nos abismos escondeu

Até parece que agora
não quer o vento tocar
o oceano queixoso
qual menino a soluçar

Por que as ramas da folhagem
bem como as ondas do mar
sem bater sopro de vento
começam a murmurar?

Sobre tapete de relva
a verde folha inclinada

destina gotas de orvalho
no rocio da madrugada!

Renascida a natureza
parece sentir amor
mais brilhante, mais viçosa
o calix levanta a flor

Por entre as ramas ocultas
docemente a gorgear
acordam trinando aves
publicando seu cantar

O arvoredo nessa lingua
O que diz, por que sussurra 
Que diz o cantar das aves
Que diz o mar que murmura???

Louvam um nome sublime
o nome de seu autor
o nome do Deus vivente
o nome do Criador

Também eu, Senhor direi
teu nome em meu coração
e juntarei os meus cantos
ao hino da criação!!!

Quando a dor meu peito arranha
quando me esmaga a aflição
quando me falta na terra
mesquinha consolação

Tu Jesus do peso insano
Livras meu peito arquejante
seca o pranto que estes olhos
estão vertendo abundante.

Tu pacificas minh'alma
quando se rasga com pena
como a noite que se esconde
na luz da manhã serena!

Tu és a luz do universo
És o Supremo Senhor
Tu és a fonte da vida
És o infinito amor

Direi as sombras da noite
Direi as luzes da aurora
Tu és o Deus Verdadeiro
O Ser que minh'alma adora!!!


Gonçalves Dias

Rosário antigo








Dedico esta bela peça a todos os historiadores




Quando a noite, contemplo extasiado
estas contas antigas do rosário
das minhas orações
Contemplo n'alma poema legendário
de velhos tempos e passadas eras
de santas devoções!

A cruz ebúrnea em que jaz o Cristo
é de um lavor sutil que nos revela
um gênio magistral
obra de monge em merencória cela
artista há muito adormecido
em velha catedral!



Há séculos um dia nestas contas
passou outrora suas mãos esguias
a castelã senil
Recordando festivos e ditosos dias
em que a seus pés o menestrel vibrava
mimoso arrabil

Talvez esta bela peça minorasse
saudades de noiva lacrimante 
que embalde esperou
Em cada nau que vinha do levante
garboso donzel enamorado
que foi e não voltou!

Sob a cota de nobre cavaleiro
que o tirava as noites estreladas
chorando por aquém
Aquele combatente das cruzadas
que atravessou a terra santa
e viu Jerusalém!

Talvez fiel noviça em triste claustro
seus anos em doce primavera
Só nele confiou
E loucos sonhos de falaz quimera
apertando este rosário ao peito pudibundo
na santa paz expirou!

Eis o que leio no rosário antigo
E quando melancólico lhe beijo
as contas de marfim
ouço no ar as notas de um harpejo
E a crença de uma mística toada
Vibrar dentro de mim!!!



A C Gonçalves Crespo

A morte de Jesus




Jesus pendente, expira; e sem demora
de susto e horror desmaia o sol na altura
cobre-se o céu com um manto de negrura

O mundo inteiro treme e se apavora.

Trajando luto toda a natureza chora,
Fende-se a terra, estala a rocha dura
Abandonando a paz da sepultura
vagueiam mortos pelo campo afora!

Além, ronca o trovão sinistramente,
Fuzila o raio, e em louca tempestade
Agita-se o imenso mar furiosamente

Tinhas por certo oh Cristo a divindade
Pois na morte de um Deus, de Deus somente
Pode haver tanta pompa e majestade!!!


Pe Antonio Tomaz

domingo, 15 de junho de 2014

A pecadora




Num enorme rumor, o povo irado segue

Uma mulher quem em passos convulsivos
Demonstra em cada olhar raivoso que a persegue
sentença de morte escrita em traços vivos.

Cobrindo-a de insultos, a multidão prossegue,
em seus instintos vis, perversos, agressivos
E a mísera, fugindo; aos fariseus consegue
aos pés de Jesus reter os vingativos

Condenai! Diz a turba, enquanto a fúria medra
É adultera, Senhor; Moisés tem decretado
Que criaturas tais corressemos a pedra!

Mas Cristo soerguendo a destra lhes responde:
"Quem dentre vós estiver sem pecado,
lance a primeira pedra." A multidão se esconde!

Mário Accioly