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segunda-feira, 2 de março de 2009

A cruz... (Herculano, continuação)









E eu te encontrei, num alcantil agreste,

Meia quebrada, oh cruz. Sózinha estavas

Ao pôr do sol, e ao elevar-se a lua

Detrás do calvo cerro. A soledade

Não te pode valer contra a mão ímpia,

Que te feriu sem dó. As linhas puras

Do teu perfil, falhadas, tortuosas,

Oh mutilada cruz, falam dum crime

Sacrílego, brutal e ao ímpio inutil!

A tua sombra estampa-se no solo,

Qual sombra de antigo monumento,

Que o tempo quase derrocou, truncada.

No pedestal musgoso, em que te ergueram

Nossos avós, eu me assentei. Ao longe

Do presbitério rústico mandava

O sino os simples sons pelas quebradas

Da cordilheira, anunciando o instante

Da Ave Maria, a oração singela,

Mais solene, mais santa, em que a voz do homem

Se mistura aos cânticos saudosos

Que a natureza envia ao céu no extremo

Raio de sol, passando fugitivo

Na tangente do orbe a que trouxestes

Liberdade, progresso e que te paga?

Com a injúria e o desprezo, e que te inveja

Até na soledade, o esquecimento!

domingo, 1 de março de 2009

A Cruz mutilada (versos brancos do imortal Herculano)









Amo-te, oh cruz, no vértice firmada

De esplêndidas igrejas;

Amo-te quando a noite, sobre a campa,

Junto ao cipreste alvejas;

Amo-te sobre o altar, onde, entre incensos,

As preces te rodeiam;

Amo-te quando em prestito festivo

As multidões te asteiam;

Amo-te erguida no cruzeiro antigo

No adro do presbitério;

E quando ao morto, impressa no ataúde,

Guias ao cemitério;

Amo-te, oh Cruz, até, quando no vale

Negrejas triste e só;

Núncia do crime, a que deveu a terra

Do assassinado o pó:



Porém quanto mais eu te amo

Oh cruz do meu Senhor,

É, se te encontro a tarde

Antes do sol se por.



Na clareira da serra,

que o arvoredo assombra

e a luz fenecendo

se entira a tua sombra,



Do sol os frageis raios

com o luar mistura

e o seu hino a tarde

o pinheiral murmura.