E eu te encontrei, num alcantil agreste,
Meia quebrada, oh cruz. Sózinha estavas
Ao pôr do sol, e ao elevar-se a lua
Detrás do calvo cerro. A soledade
Não te pode valer contra a mão ímpia,
Que te feriu sem dó. As linhas puras
Do teu perfil, falhadas, tortuosas,
Oh mutilada cruz, falam dum crime
Sacrílego, brutal e ao ímpio inutil!
A tua sombra estampa-se no solo,
Qual sombra de antigo monumento,
Que o tempo quase derrocou, truncada.
No pedestal musgoso, em que te ergueram
Nossos avós, eu me assentei. Ao longe
Do presbitério rústico mandava
O sino os simples sons pelas quebradas
Da cordilheira, anunciando o instante
Da Ave Maria, a oração singela,
Mais solene, mais santa, em que a voz do homem
Se mistura aos cânticos saudosos
Que a natureza envia ao céu no extremo
Raio de sol, passando fugitivo
Na tangente do orbe a que trouxestes
Liberdade, progresso e que te paga?
Com a injúria e o desprezo, e que te inveja
Até na soledade, o esquecimento!
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