Utopia...

Tu e eu, eu e tu; um olhar, um sorriso
Teu semblante vislumbro repleto de amor
Eu em pranto desfeito e na alma temor
Que estendas tua mão somente preciso

Fixo em ti o olhar, oh divino Narciso
E do peito cansado retiro um clamor:
Deste mundo em que impera o desamor
Faz surgir deslumbrante paraíso!

'Filho, me respondes, este mundo
Em que habitas, já paraíso, inferno
De tuas ações é consequência!'

"Enche-me pois de amor profundo
Concede-me um coração fraterno
E empresta-me a benevolência!"

Porque creio

Dizem que és bom e eu acredito
Que és nobre, puro e excelente
Que és o amor infinito onipresente
Que és o Deus santo e bendito

Deus não é padrasto, tal o dito
Que tenho ouvido repetidamente
E para ser franco e reverente
Sinto que o contrário seria inaudito

Porém como crer e por que crer?
Que assim seja quando percebemos
Tanta dor, sofrimento e desventura

O que me impede amigo de descrer
É o ideal que há muito recebemos
De um Deus que quis ser criatura...

A Jesus

Conforta meu Bom Jesus, conforta
Os pobres que vagam pela vida
Coração tropego, alma ferida
Que com nada mais se importa

Peregrinos que de porta em porta
Imploram por pão, amor, guarida
Tendo a mente mortal enfraquecida
E senda do porvir estreita e torta

Estende a mão boa e amiga
A tantos quantos neste mundo
A perda de alguém vão lamentando

Socorre Senhor, conforta, abriga
Neste vale da lágrimas profundo
Os que caminham tristes, soluçando

Sobrevivência

Qual um cântaro de barro que se parte
Ou cristalina taça que se fragmenta
Em mil pedaços quando se apresenta
Menos resistente que do adorno a arte

Também um dia a alma evola, parte
Se porventura o corpo não aguenta
Mas o mistério da morte; salienta
Que a consciência é coisa aparte

Pois enquanto o corpo é sepultado
No seio da terra escura e fria
Tendo a putrefação por sorte

A alma tem nos céus o resultado
Da virtude e das obras - alegria
Ventura superna que a conforte.

Conforto

Vinha eu triste e fatigado e ele vinha
o calvário subindo em passos lentos
Senhor das dores e dos desalentos
Tendo lavado as vestes numa vinha

No entanto firme e fiel ele se atinha
E consagrava seus últimos alentos
Aos mais nobres e santos sentimentos
Que por nós generoso entretinha

Diante de exemplo tão sublime
De amor, abnegação, bondade
Esqueci de minhas próprias dores

Se Jesus sendo santo não se exime
De sofrer para salvar a humanidade
Que dizer de nós que somos pecadores?

Acompanhado

Ele disse segue-me, eu lhe disse então:
Como se sou tão fraco e tão pequeno?
De pronto respondeu-me o nazareno
De tantos quantos em mim estão

Sou o Pastor, o médico, o portão
Sou o Sol, a luz, o céu limpo e sereno
Sou o regato, o vento, o sopro ameno
Sou o arrimo, o escudo e o bastão

Estou pronto a caminhar contigo
Rumo as moradas da eternidade
Caso queiras caminhar comigo

Conduz-me ao celestial postigo
Tu que acolhes em paz a humanidade
Sendo Deus, sendo Pai e enfim, amigo!

Encontro

Tendo buscado aqui a crença pura
Como peregrino eterno do infinito
Sentindo-me sozinho e tão finito
Rojava aflito pela senda impura

Sentindo uma ansiedade que tortura
Aspirando por um mundo mais bonito
No coração tinha um bloco de arenito
Na mente um torvelinho de amargura

Até que numa curva do caminho
Qual Zaqueu avistei o Mestre Amado
Resolvendo segui-lo a vida inteira

Já não tenho fome ou sede de carinho
Avançando com Cristo e saciado
Prossigo até a hora derradeira.

Conversão

Quando eu caminhava pelo mundo errante
Tendo a fronte curvada, o passo incerto
Portanto na alma um árido deserto
De dor gemendo a cada instante

A própria vida era triste e irritante
Ignorava o que era justo e certo
E de desacerto em desacerto
Caindo ia num abismo hiante

O passo porém vim a acertar
Embrenhando-me num caminho reto
Que é o Evangelho santo de Jesus

Desde então me pude consertar
Praticando a lei do amor concreto
Passando da treva do domínio da luz

Juventude eterna

Já declinei das falsas esperanças
Da gentil mocidade acalentadas
E digo sem palavras afetadas
Aspiro a paz das bem aventuranças

Oxalá possa viver como as crianças
Que a maldade não aspiram e afastadas
vivem das sendas torpes, malfadadas
de sobressaltos e inseguranças

Viva eu da verdade e da virtude
Do serviço fraterno e diligente
Estabelecido por lei no Evangelho

Tal minha lei, proceder e atitude
Porque tomando os fardos desta gente
Possa ser jovem ainda quando velho.

Serenidade

Há um pouco de morte na vida
Há um pouco de vida na morte
Um frágil equilíbrio que suporte
Anseios da alma comovida

Tal a esperança nossa é atrevida
No pobre, no rico, no fraco, no forte
a ponto de que com nada mais importe
firme, constante, dura e resolvida

No entanto ao tempo tudo cede
espaço. Zombando a mortal fatalidade
Do colossal esforço humano.

Feliz o que nada espera e nada pede
Ultrapassando os umbrais da eternidade
Quebrando os laços do tempo soberano!

Alvoradas

Com denso véu tu cobristes a mente
Negro véu de luto e de desolação
É chegada a hora de teu coração
Outras alvoradas fazer novamente

Contempla brilhante o Sol nascente
Resoluto afasta-te da cerração
Busca no porvir uma luz de redenção
Que te renove e restaure interiormente

Segue em frente com guarra e valentia
Sabendo que aqueles que partiram
Fruem na paz outra existência

Espanca a nuvem densa que entedia
Recorda-te com amor dos que seguiram
Mas fixa nesta vida resistência!!!

A mensagem

Ao ler este recado alma querida
Que ao perder da esperança a luz
Iludida por falsa esperança que reluz
Te sentes cansada sem fé e guarida

Reconsidera o rumo de tua vida
Carrega com coragem tua cruz
Seguindo o exemplo dado por Jesus
A torrente de pranto enxuga comovida

Sabe que a vida segue e continua
Desta vida além das aparências
Noutras paragens mais amenas

Abraça esta verdade firme e nua
Quebra da angústia as aderências
A dores provisórias são pequenas!

Opondo-se a todas as injustiças

Num mar de fel mergulhou minhalma
No pranto lavada, pela dor batida
Vendo a lei de Cristo subvertida
Por essa gente com cínica calma

Quanto mais penso mais a dor espalma
Ao ver a mensagem de Cristo invertida
Sua lei de amor e justiça pervertida
A maldade levando neste tempo a palma

Este novo Evangelho da impiedade
A serviço da desigualdade humana
É sinal de um cósmico cataclismo

Sórdida traição a pobre humanidade
Doutrina ímpia, suja e desumana
Agonia lenta do nosso Cristianismo!

Bem mais que uma fé...

Em vil apoteose do cinismo
Como um farrapo ou trapo velho
Transformou-se a lei do Evangelho
consumida pela larva do egoísmo

Eis debilitado o nosso Cristianismo
E até convertido em aparelho
A serviço das elites, dum grupelho
Que perdeu o sentido do humanismo

Formando as fileiras da justiça
Do amor, da luz e da verdade
Desta direção nós nos afastamos

Repudiando o mal e a injustiça
Lutando pelo bem da humanidade
Ao farisaísmo ataquemos, combatamos!

Se o Filho vos libertar...

A voz dos oprimidos nos juntamos
Nossa voz e a voz de Jesus Cristo
Eliminar a miséria, a opressão, é isto
O que cremos, sabemos, professamos

Não senhor, nós não acovardamos
face a esta chaga cancerosa, quisto
face ao que temos assistido e visto
A mão amiga com fé estendamos!

Nisto nosso evangelho se distingue
Do Evangelho falso da mentira
Que se fecha e não estende a mão

O egoísmo em nós o Bem extingue
Tornando feliz o que de si retira
Para saciar a fome do irmão!!!

Incoerência

Me oponho ao Evangelho fácil da mentira
Que vil se fecha, não estende a mão
Evangelho falso que da vida se retira
Seguindo do bem, da luz; na contramão

Deste evangelho rasteiro como o chão
Que em meio as multidões não se atira
Se fosse veraz, um efeito surtira
Mas não é de Cristo, é de poltrão

Creio no Evangelho vivo que redime
Da miséria a humanidade por completo
Condenando a falsa lei do egoísmo

Diante dos céus denuncio este crime
Do Evangelho descarnado e incompleto
A serviço das hostes do materialismo!

Adulteração

Sinto vergonha Jesus do que fizeram
Com tua lei pura, santa e boa
Os homens vis não se contiveram
E confesso a audácia deles me atordoa!

Que bofetada em face não te deram
Enquanto na humanidade doa
Pudor e recato algum eles tiveram
Face a inocência santa que perdoa

E convertam a mensagem tua
Numa lei de indiferença e egoísmo
traindo mandamento excelso do amor

E a maldade deles ainda hoje atua
Crismando as fontes do capitalismo
Apregoando a avareza e o desamor!

Cristianismo puro e simples

Se do próximo não te compadeces
Concretamente amigo e não ajudas
Não és outro Cristo mas um Judas
Que do monte a cova desces

Sim, se do irmão te esqueces
Não te enganes amigo, não te iludas
A menos que o sirvas e acudas
Jesus será surdo a tuas preces

Portanto acode e serve com carinho
a tantos quantos encontrares
Da breve existência no percurso

A caridade é o único caminho
A virtude o mais santo dos altares
A esperança dos homens recurso!

A verdadeira religião

A pergunta amigo que que me fazes
Sobre a religião sem mancha e pura
E sobre a religião falsa e impura
Que entre si não fazem pazes

Sem palavras grosseiras ou mordazes
Dirigidas como a quem procura
Caminho ou para a enfermidade, cura
Assentando a vida em outras bases

Assistir o órfão, a viúva, o estrangeiro
Nas necessidades prementes desta vida
Eis a religião, santa, pura e imaculada

Tal o Evangelho de Cristo verdadeiro
A fé mais elevada, pura e esclarecida
Dos céus o caminho, guia e estrada!

O diabo

Não creio neste anti Deus malvado
Com que tantos buscam desculpar
o mal que fizeram, senão inculpar
cinicamente a vileza do pecado

Não creio neste deus do mal, criado
pelo homem com objetivo de poupar
A si mesmo da responsabilidade e aliviar
Espantalho pelos fariseus canonizado

Todo mal cometido neste mundo
Parte apenas da maldade humana
Que é verdadeiro Diabo sobre a terra

O homem é que se faz sujo e imundo
Portando-se de maneira vil e desumana
Toda vez que peca, toda vez que erra!

Inferno

Quando decidiu o homem projetar
Para fora de si os seus instintos
Do bem distantes, bem distintos
Quando decidiu o mal extrojetar

Quando no mundo ele fez injetar
com os olhos dilatados e retintos
com os dedos de vermelho tintos
Todo ódio que podia concentrar!

Quando mentiu, roubou e assassinou
Quando a dor produziu no semelhante
Exteriorizando o que era interno

Quando este mundo transtornou
A semelhança de um abismo hiante
Foi ele mesmo que criou o inferno!

Falsos salvadores

Ninguém salva ninguém meu bom amigo
Um só morreu na cruz, o Cristo
Por isso a troça fácil não resisto
Pondo-me das más linguas ao abrigo

Quem quiser pode brigar comigo
A presepada calado não assisto
De chamar a atenção eu não desisto
Apontando da humanidade o inimigo

Esse que por benfeitor quer se passar
Aplausos arrancando e ovações
Oferecendo ao povo fácil redenção

Quem sabe aspira apenas perpassar
E por vaidade das aclamações
Cimentar o domínio da opressão!

Post mortem...

Quando senti da cova a terra fria
Cobrindo o corpo enregelado e duro
Conheci a imensa vastidão do apuro
Que a caridade sem contemplação esfria

Quanto mais me revoltava mais sofria
Aspirando pelo que havia de mais puro
Em tálamo nauseabundo, vil e impuro
A mortal angústia eu aderira...

Já emancipado dos antigos laços
Contemplo a terra em que vivia
Qual tapera ou morada passageira

Seguindo em demanda dos espaços
E refletindo sobre tudo quanto via
Agora estou na vida verdadeira!