O terapeuta

Tendo peregrinado por caminhos
Que tornam a vida humana tediosa
Da fronte caiu a última rosa
Restaram apenas os espinhos

Estando só a mingua de carinhos
Que tornam a vida prazerosa
Preso a existência tormentosa
Até os pensamentos são mesquinhos

Somente tu Jesus, médico divino
És capaz de dar-me a cobiçada cura
E de consertar o meu destino

Retira-me desta senda escura
Como Senhor não sei e nem atino
Tendo chegado as raias da loucura!

Desabafo

Nos percalços difíceis da existência
Que sempre é merencória e dolorida
Trago no peito a alma consumida
Por ter buscado em vão a excelência

Até mesmo o brilho da ciência
Crestou-me a alma compungida
E por trilhar a senda ingrata e esbatida
Sinto obscurecer a luz da consciência

Eis porque agora aos pés do lenho
da cruz, madeiro santo e precioso
Em prantos e recurvado venho

Acolhe-me Jesus que es tão bondoso
Lágrimas, eis tudo quanto tenho
A paz suplicando do teu gozo! 

Por que?

Perguntei a Jesus, Mestre da verdade
Por que há que o ódio semeie em teu nome?
Vulgar sentimento que a alma consome
Numa terra em que prevalece a iniquidade

Respondeu-me o Senhor da eternidade:
Filho, o mal assemelha-se a uma síndrome
A vileza humana como a sede e a fome
A mente afasta da sobriedade.

Os homens tudo distorcem, subvertem
Tudo poluem, contaminam e profanam
Multiplicando suas próprias dores

Por isso minhas palavras advertem:
Me pertencem apenas aqueles que amam
Me comunico e revelo aos sofredores!

O livro dos astros

Aos céus estrelados volvi meu olhar
Nos sidéreos fogos buscando a Jesus
A nuvem de pranto salgada a molhar
a face nimbada num raio de luz

Minhalma em prantos a se desfolhar
contempla esta face que acima reluz
O bem, a virtude no peito afolhar
A sombra da constelação da cruz

Contemplo os mistérios do reino divino
Por astros gravados na orla do céus
Qual um livro fosse de História sagrada

E a luz desse brilho amarelo citrino
Rasgam-se todas as gazes e véus
Ascendo contigo a divina morada!

Trindades

O dossel das negras nuvens assomando
Anuncia ao Senhor e rei do firmamento
Que nas asas levíssimas do irmão vento
Cometas, estrelas e a lua vem chegando

Nesta hora o campônio matutando
Do cosmos no repetido movimento
Tomado pelo poder do sentimento
Os joelhos por terra vai dobrando

A voz dos sinos das torres da abadia
Anuncia a mística hora da Trindade
Enquanto o sol se recolhe no poente

Nasce mais uma noite, morre o dia
Entra em descanso a pobre humanidade
Até que o Sol desponte novamente!

Esperança

Tu que pela retaguarda desta vida

Te arrastas numa existência tormentosa

Se há espinho lembra que também há rosa

Cujo perfume a meditar convida

Trilhando a via das dores, comovida

A senda das angústias pavorosa

Noite imensa da alma desditosa

Que em plena luz do dia é revivida

Agarra-te ao tênue fio da esperança

Concedida pela fé pura e imaculada

Do Santo homem que morreu na cruz

Espera, pois quem espera sempre alcança

E observa que após a noite mais fechada

Torna a brilhar o Sol com sua luz!