domingo, 1 de março de 2009

A Cruz mutilada (versos brancos do imortal Herculano)









Amo-te, oh cruz, no vértice firmada

De esplêndidas igrejas;

Amo-te quando a noite, sobre a campa,

Junto ao cipreste alvejas;

Amo-te sobre o altar, onde, entre incensos,

As preces te rodeiam;

Amo-te quando em prestito festivo

As multidões te asteiam;

Amo-te erguida no cruzeiro antigo

No adro do presbitério;

E quando ao morto, impressa no ataúde,

Guias ao cemitério;

Amo-te, oh Cruz, até, quando no vale

Negrejas triste e só;

Núncia do crime, a que deveu a terra

Do assassinado o pó:



Porém quanto mais eu te amo

Oh cruz do meu Senhor,

É, se te encontro a tarde

Antes do sol se por.



Na clareira da serra,

que o arvoredo assombra

e a luz fenecendo

se entira a tua sombra,



Do sol os frageis raios

com o luar mistura

e o seu hino a tarde

o pinheiral murmura.

Nenhum comentário: