segunda-feira, 16 de junho de 2014

Rosário antigo








Dedico esta bela peça a todos os historiadores




Quando a noite, contemplo extasiado
estas contas antigas do rosário
das minhas orações
Contemplo n'alma poema legendário
de velhos tempos e passadas eras
de santas devoções!

A cruz ebúrnea em que jaz o Cristo
é de um lavor sutil que nos revela
um gênio magistral
obra de monge em merencória cela
artista há muito adormecido
em velha catedral!



Há séculos um dia nestas contas
passou outrora suas mãos esguias
a castelã senil
Recordando festivos e ditosos dias
em que a seus pés o menestrel vibrava
mimoso arrabil

Talvez esta bela peça minorasse
saudades de noiva lacrimante 
que embalde esperou
Em cada nau que vinha do levante
garboso donzel enamorado
que foi e não voltou!

Sob a cota de nobre cavaleiro
que o tirava as noites estreladas
chorando por aquém
Aquele combatente das cruzadas
que atravessou a terra santa
e viu Jerusalém!

Talvez fiel noviça em triste claustro
seus anos em doce primavera
Só nele confiou
E loucos sonhos de falaz quimera
apertando este rosário ao peito pudibundo
na santa paz expirou!

Eis o que leio no rosário antigo
E quando melancólico lhe beijo
as contas de marfim
ouço no ar as notas de um harpejo
E a crença de uma mística toada
Vibrar dentro de mim!!!



A C Gonçalves Crespo

Nenhum comentário: